Certa feita, alguém me disse que era um privilégio viver a
crise, pois a crise era o ponto ápice de resolução, como uma grande explosão que
faz tudo ir para os ares antes de começar a reforma. Eu acreditei, na realidade
que tive lá minhas dúvidas, mas quando ouvimos alguém falar com tanta paixão e
verdade nos faz acreditar nem que seja um pouco, não é mesmo? Hoje eu posso
dizer que enfrento “A crise da minha vida”: vejo que preciso cortar as relações
que não me fazem bem, as que já foram e eu ainda finjo acreditar que voltarão,
amizades que não viam em mim grandes coisas, mas que contrariamente eu confiava
e considerava bastante; amores do passado, desejos (que continuamente foram só
desejos) que sempre respeitei para que se mantivessem nessa posição de
desejosos, nunca realizáveis. Eu alimentei todas as frustrações possíveis e
hoje elas não cabem mais em mim, e preciso sair desse espaço que eu não caibo.
Realmente, eu estou em crise!
Não consigo me ver no lugar onde sempre estive, não consigo
entender como não me inconformei com aquele lugar tão pequeno que me coloquei
por tanto tempo. Eu alimentei todas as mazelas que me sugaram as forças, e me
deixei esfomeada de amor próprio, de atenção às minhas necessidades. Engraçado
que sempre soube dar excelentes conselhos de como sair daquele lugar, mas agora
eu olho para esse espaço em que estou e vejo que preciso da CRISE para sair
dele. Eu não me vejo no espaço que outra pessoa forjou para mim.

Precisei fazer uma pós-graduação para aprender o que é luto
e passar por ele. E particularmente eu me surpreendo toda vez que percebo que
preciso fazer luto também de pessoas vivas. Mas até conseguir eu preciso passar
por uma crise, pois bem, estou nela, que acabe logo!