segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Sujeito Vivo

Cabelo e barba que refletem um tom vermelho
Ele tem um tom rubro em si por inteiro
Prefere para a própria vida um novo modelo
Faz das experiências uma intensidade pulsante

Dá para perceber o palpitar nas suas palavras
É possível sentir aroma nas suas ideias
Seus desejos de tão intensos possuem formas

Ele tem uma vida além da própria vida
Carrega um tom adocicado e nostálgico
Ou talvez seja o amargo de um café forte
Um aroma de tabaco recém fumado
O mesmo que deixou no último livro de cabeceira

Ele não é vinho suave
Ele é vinho seco, encorpado e envelhecido
Aquele tipo de bebida que deixa tonto em um só gole

Com ele não há rima nem perfeita métrica
Com ele há sentidos, instintos e variações
Para ele as palavras apenas latejam.

Magnólia Ramos - Sujeito vivo
(24/10/2016)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Relatos de uma "fracassada"



É muito desagradável se pegar numa recordação constrangedora (e eu sou especialista em ter esse tipo de lembrança), a impressão (pelo menos eu tenho muito disso) é de que estou revivendo a vergonha e não consigo controlar, seja físico ou afetivamente as sensações, por isso às vezes eu fico a inclinar os ombros para baixo ou meu rosto paralisa, com uma leve mordida dos lábios, como se estivesse tentando manter contato com a realidade diante daquela situação.
Resultado de imagem para mulher rindo tumblrHoje enquanto estava no percurso ao shopping para ver um filme e tentar me convencer que tem muita coisa boa no mundo, eu recordava de inúmeras cenas desse tipo: em que falo algo que não devo, não ouço o que uma pessoa fala e sou cobrada (tendo que admitir que pela 7ª vez de repetição eu não ouvi), tropecei, cair, soltei uma cantada para um rapaz que estava ao lado da namorada (eu juro que não sabia), e assim sucessivamente... Eu fui encolhendo na moto, de forma a tentar controlar meus pensamentos para seguirem para um caminho mais acolhedor e tranquilo. Mas de repente, eu comecei a rir, desenfreadamente. Achei tudo aquilo engraçado como se não fosse eu. E de certa forma, tive um tipo de carinho diferente por mim mesma. Eu estava vivendo... Eu entendi que em todas aquelas situações eu estava tentando: falei algo que não “devia”, mas me expressei, disfarcei a falha de ouvir tentando proteger meu self da exposição de admitir que meus sentidos (no caso o de audição) estavam falhando, tropecei e cai porque caminhei, soltei cantada para pessoa “errada” porque me envolvi e respondi àquilo, tive iniciativa. É bom ver que as nossas falhas são partes constitutivas do que somos, porque a partir delas nós aprendemos, se não, pelo menos teremos algumas histórias e/ou filmes mentais com cenas da nossa vida, movimentos e decisões nossas.
Resultado de imagem para mulher rindo tumblr
Quando estava cheia de amor pelas minhas falhas, eu senti pena de mim mesma. Não por ter errado, mas por querer acertar sempre e por achar anormal falhar. É um tipo de comando inconsciente/coletivo/impositivo/cultural que diz que temos que acertar sempre, fazer bonito, ser sutil e vitoriosa. E uma mulher gordinha que não se veste como no ultimo catálogo da moda e ainda se dá ao luxo de tropeçar, cair, falhar na interação, escolher o cara errado, e ainda, até hoje, não ter um cara ao lado(!) é a personificação do fracasso. Quando que na realidade o bom mesmo é tentar fazer da nossa vida um livro cheio de textos, imagens, lembretes e mensagens sobre nós e para nós mesmos. E quando tudo isso acontecer se achar o máximo, mesmo que seja fazendo tudo diferente, mesmo que seja o “errado” (quando esse errado é uma decisão própria, já está valendo).
Eu vejo que não é possível acertar sempre, nem nunca. Na realidade o que é acertar mesmo?